A escola onde efetivei é uma escola profissional. Tem, além desse ensino,cursos CEF.
Nunca tinha tido experência com qualquer deste tipo de ensino e, igual a mim mesma, achei que enquanto professora, seria uma mais valia a experiencia, nem que fosse por um ano! "Se não me adaptar posso sempre tentar a mobilidade para uma escola de ensino recular".
O embate maior e a preocupação inicial foi: Isto vai ser a minha primeira vez com turmas CEF.
Confesso: fiquei apreensiva.
Sabia que era um público diferente, com histórias difíceis às costas, com resistências, com cansaço da escola — e tantas vezes com pouca esperança em si mesmos.
E eu? Ia conseguir chegar até eles? Ia conseguir fazer a diferença?
Ouve-se tanta coisa... Decidi ir sem bagagem nem expectativas e ver onde o vento me levava.
O primeiro impacto foi um choque de realidades.
O que funciona nas turmas regulares… aqui nem sempre cola.
Há outra linguagem, outro ritmo, outro foco.
Muitas vezes, o desafio é só conseguir que acreditem que conseguem aprender.
O inglês ficou tanta vez à porta da sala para que eu fosse apenas a amiga, a psicóloga, a ouvinte...
Fui com aquilo que sempre me guiou:
Ensinar por amor.
Sem romantismos — houve dias difíceis. Alunos demotivados, mais desafiantes, medições de força iniciais ao nível de ringue de boxe (sem o confronto físico)...Houve olhares desconfiados, respostas tortas, promessas de pneus furados e até silêncios que falavam mais do que palavras.
Mas fui ficando.
Fui-me forçando.
Fui ouvindo.
Fui aprendendo com eles.
E, aos poucos, eles também foram ficando.
Começaram a sorrir, a participar, a brincar, a perguntar. A confiar.
Descobri que, mesmo quando os caminhos são mais sinuosos, o ensino continua a ser um lugar de encontro. Pode não ser sempre do que levamos planeado para a aula... mas havendo encontro, há uma aprendizagem... Nem que seja de cidadania. De respeito. De Sermos HUMANOS.
E que, quando se ensina com o coração, há sempre alguém que ouve, que aprende, que floresce.
Talvez nem todos tenham ficado rendidos.
Mas muitos sim.
E isso vale tudo.
Obrigada, às minhas turmas CEF, por me ensinarem.
A escola precisa de todos. E todos precisam de alguém que acredite neles.
O ano terminou. Não vou a lado nenhum... Estou em casa.
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