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Mensagens

A mostrar mensagens de 2021

Saudades

  A palavra saudade só ganha sentido quando não podemos fazer nada para a mitigar. Faz hoje um ano que o telefone tocou com a notícia mais dolorosa que já recebi. Tenho saudades das conversas que já não podemos ter. Saudades de não receber as tuas chamadas nem poder ligar-te todos os dias, para falar de nada. Saudades do toque das tuas mãos, sempre quentes. Saudades de criar mais momentos contigo e ainda assim, ter a certeza convicta que continuas diariamente comigo.

Da importância de ler

  Anúncio num site de vendas: “vendo colchão ortopédico para cama/berço de grades. Medidas: x por y. Preço Z. A levantar pelo comprador em local M…” Perguntas: è de adulto? Qual o preço? Entrega em Lisboa? Dá para cama de solteiro? A cama está incluída? Exatamente quando é que se deixou de saber interpretar e LER a mensagem?!

Mas...mas...

- Mãe, podes fazer a minha cama? Não consigo sozinho, está muito desmanchada. -Claro, Kike. Acabo de fazer, ouço um: -Obrigada mamã! - abre a cama e enfia-se debaixo do edredão

hmpf - ou a beleza da maternidade

  - oh mãe se tu não fosses gorda eras bonita! #%*%#! - Então e não posso ser gorda e bonita? -Oh! Não è a mesma coisa! Nem podes usar aquelas roupas tchannn! alguém sabe onde se rifam crianças? È para uma amiga, claro!

Leituras de Verão - Como Água para Chocolate

  Confesso que nunca tinha lido Laura Esquivel. O nome deste livro é cativante e já por várias vezes olhei para ele, mas ainda não o tinha lido. Primeiro, assumo, adoro este tipo de realismo mágico, tão característico da literatura mexicana. Gosto muito desta mistura de elementos mágicos num universo mundano. Depois, vou confessar que devorei o livro em poucas horas e a melhor palavra que encontro para o descrever é: delicioso . Achei muito interessante a forma como foi se desenvolveu a dicotomia entre a autoridade da Mamã Elena e da opressão militar do regime no México com a liberdade criativa de Tita na cozinha. Os capítulos começam com uma receita e os elementos mágicos vão surgindo, ligados à forma como a comida afeta as emoções de quem a come. – Adorei!  De um modo geral, a história é envolvente, a escrita da Laura Esquivel é fluída e simples. Gostei do modo despretensioso e quase “frio” como algumas mortes são narradas. Não sei se será algo cultural, fiquei com essa ideia.

Leituras de Verão - Uma Terra Prometida

  Para quem gosta de biografias, políticas estatais e um pouco de drama é um prato cheio. Eu, pessoalmente, gosto da ideologia de Barack Obama e gosto da sua postura. O livro lê-se bem, a escrita é fluida e a obra está bem traduzida. Não vou dizer que adorei porque há muita política interna americana, muitas tramas e redes que não domino (nem quero) e em certas alturas tornaram a leitura mais aborrecida. Sobretudo o início do livro é um pouco pesado, por focar muito na campanha eleitoral. Fora isso é um livro interessante onde conseguimos ter uma perspetiva dos primeiros anos de Barack Obama na cena política e perceber o background que ajudou a moldar a sua ideologia. O relato do tempo na presidência é muito bom, envolvente e traz muitas reflexões do autor sobre os acontecimentos mundiais daquela época e suas condutas. Obviamente que estamos a ler uma autobiografia e percebe-se claramente em alguns momentos a parcialidade e a visão pessoal do autor, mas, é normal dado o tipo de liv

prioridades do século XXI

- Mãe! O tablet está sem internet! - foi o bom dia deste sábado. Explico que tem havido falhas. Que devem estar a mexer na rua… - oh mãe mas já fui a sala e o aparelho nem está a piscar. - olho o meu Telm e constato que de fato o Wi-Fi está desconectado. - Kike,  deve ser qualquer coisa geral. Vai brincar com a mana. Entretanto levanto-me, abro os estores e vou à casa de banho. - Henrique, o problema não é a internet. Estamos sem luz!  - Oh mãe! Mas isso abrimos os estores! Eu quero é a net! Inspira… expira… explicamos às alminhas que sem luz não há net. - Bolas! Então vou ver Netflix… 🤦‍♂️🤦‍♂️🤦‍♂️ eu e o pai olhamos um para o outro: explicas tu, ou explico eu? 

Leituras de verão - Os Meus 35 Anos com Salazar

  Não tenho particular interesse em Salazar e acabo por ter inculcada a visão generalizada e propagandeada, do bicho papão que manteve Portugal num regime ditatorial durante quarenta anos. Em prol da verdade, tenho presente essa visão, com algum atenuar pela ideologia do meu avô, que apesar de ter nascido pobre e vivido em condições adversas durante toda a infância, tem uma visão ideológica em que defende o Homem, por ter evitado que Portugal fosse para a guerra, e por, no meio da repressão, ter tentado “impor os bons costumes”. Ora, eu nasci no fim dos anos setenta, em democracia. Não consigo conceber a ideia da imposição que ele defende, mas pelo amor desmesurado que lhe tenho, acredito que haja no discurso do meu avô qualquer base credível. Assim, nestas férias decidi levar comigo um dos seus livros. Chamou-me a atenção o nome e confesso que na minha ignorância achei que fosse ler qualquer coisa sumarenta sobre um caso amoroso do tipo. Ora bolas. Nada disso. O livro é sobre uma rapa

Leituras de Verão - O Clube do Crime das Quintas-Feiras

 Este foi o primeiro livro que li estas férias. A base da história é um grupo de idosos que vivem numa casa de repouso com todas as comodidades, com liberdade de movimentos e ações, uma espécie de comunidade de terceira idade. Apresenta-se como um clássico policial, com uma lista de suspeitos que vão sendo riscados e acrescentados à medida que a história avança.  Achei adorável o humor e sarcasmo das personagens, retratando os idosos que conheço na vida real e que dizem o que pensam e fazem o que querem com a displicência de quem já pouco teme. Não há personagens com grande profundidade psicológica nem enredos à Agatha Christie. É um livro leve, divertido, ideal para ler à beira da piscina. Elisabeth, seguindo o cliché da rapariga que magoada decide sair da grande cidade e ir para uma localidade periférica, serve de guia neste policial onde um grupo de anciãos que se entretém a tentar encontrar pistas esquecidas em casos arquivados, se vê de repente a braços com um assassínio real. O l

Leituras de Verão - Longa Pétala de Mar

  Isabel Allende é, para mim, maravilhosa em rudo o que escreve. Sou completamente fascinada pelo dom que tem de criar personagens cativantes, envolvendo-os numa contextualização histórica apaixonante e nada pesada.  No livro, Longa Pétala de Mar, Isabel conhecemos a família Dalmau. Vítor Dalmau, um estudante de medicina que se vê obrigado a lutar na Guerra Civil Espanhola e pelos conhecimentos que tinha é colocado de serviço nos hospitais e sai ileso da guerra. Por outro lado, Roser Bruguera, uma rapariga acolhida pelos pais de Víctor, acaba por engravidar de Guillem, o irmão de vítor, que morre em combate e não chega a saber que deixou a sua amada grávida de um filho seu. Depois de várias peripécias onde se explora a miséria e o papel dos refugiados Espanhóis em fuga do regime de Franco, Vítor e Roser casam, para serem legalmente família e poderem fugir para o Chile. Partem no navio Winnipeg, numa viagem organizada pelo poeta Pablo Neruda, cujo papel em todo este conflito nos é

O Algarve e os algarvios

Fomos almoçar fora. O almoço estava bom. O que me ecoa na cabeça não são as conversas que tivémos, não é o sabor bom do peixe grelhado, mas a postura do funcionário que nos atendeu...  Adoro o Algarve. Não gosto tanto dos Algarvios.  Deixem lá elaborar, antes que me excomunguem.  Sou fã do Algarve. Fã das férias de infância, sediadas em Portimão mas a passear por todo o Barlavento e Sotavento. Gosto das praias, do canto incessante das cigarras, das figueiras na berma das estradas. Há um cheiro muito característico nesta zona e que sentimos assim que entramos em terras Algarvias. Uma mistura do doce das vegetações secas, com o pungente das flores e frutos amadurecidos nas arvores. Isto temperado com a maresia cria uma fragrância que dificilmente se conseguiría engarrafar.  Confesso que a praia é o que menos me atrai. Não as do Algarve em específico. Quem me conheçe sabe que eu, a areia, o vento e a água fria temos uma relação complicada. Há zonas muito especiais onde a praia me faz sent

Leitores no século XXI

- Outra vez a ler? Em que página estás? Tu se pudesses estavas todo dia a ler? -  A admiração do H. deixa-me a refletir nalguns pontos. Por um lado, ele só dar conta agora, em altura de férias, que a mãe lê, mostra o pouco tempo que tenho para o fazer no dia a dia, mesmo nos momentos de fim de semana.  O livro habitual na cabeceira da cama deve parecer-lhes um acessório de decoração. À hora em que lhe pego, nas noites em que o cansaço não me vence, já eles dormem a sono alto. Um hábito que tinha com o mais velho e com eles tem sido difícil conciliar. O de nos sentarmos na sala, todos, cada um com o seu livro, num momento de lazer… fica a intenção de tentar recuperar esse bom hábito. Depois, o ar francamente admirado com que me interpela, medindo a leitura pela quantidade de páginas, mais que pelo prazer, preocupa-me. Diz-me que tenho um não leitor. Alguém que, como muitos dos meus alunos, vêem na leitura uma obrigação necessária e imposta por um professor de Português, tirano ( onde eu

Com papas e bolos…

O H recebeu um smartwatch… já correu sei lá quantas jardas para usar o contador de passos… o relógio mede os batimentos cardíacos… esta farto de fazer experiências- medir sentado, a ver tv, a ouvir música, a dança, depois de receber cócegas… Quis experimentar o sleep tracking 😬 acho que é a primeira vez desde há mais de um ano que se deita, se despede e não diz mais um ai… abençoado relógio! Porque não pensamos nisto antes?

Dizeres Vintage

“-Buraquinho! Pega na trouxa e acompanha-me.” - eu, a pedir ao meu irmão que leve o material de estudo da cozinha para que possa pôr a mesa... 2 adolescentes, 2 crianças e um gato a olhar com ar de: - avariou de vez... 🤦‍♀️ eu sei... isto tem séculos... mas o meu avô tinha cassetes com os parodiantes de Lisboa! E pronto. Agora tenho meia internet a pensar: -cassetes? Do quê???

os bisavós são os mais especiais

Liguei ao meu avô, como faço diariamente. Estás bem? Que fazes? Já almocaste? Que vais comer? Não queres cá vir comer connosco? A mini-me que anda ali perto mete-se na conversa: - avô! Anda cá comer!!! O bisavô, todo derretido responde: - o avô já tem o almoço feito… mas à tarde se me sentir capaz passo aí. Resposta pronta da periquita: - Aparece à hora que tu quiseres!!  🥰 o bisavô sentiu-se acarinhado, garantindo que aqui passa mais logo… e eu, sinto-me tão grata deste amor dela por ele. É como se perpetuasse a imensidão do que eu própria sinto. A família, o amor, são a nossa maior força, a nossa maior riqueza. Alegra-me saber que esses valores lhes estão a ser transmitidos

Ontem

Ontem, o dia foi (felizmente) semelhante a tantos outros. Mimada desde o momento em que abro os olhos, até à altura em que cansada, me deito a refletir no quão abençoada sou. Faltou um se, para ser perfeito. É que ontem não recebi a tua chamada logo de manhã. Não me deste os parabéns e lembraste que eu era assim pequerruchinha quando nasci… não discorreste em recordações da minha infância. Não me deste os conselhos habituais. Ontem eu não fui a tua casa com um bolinho para celebrarmos juntas… pela primeira vez não vou ter um postal que começa: “ Hoje é um dia muito especial, fazes 44 anos.”   E custa muito… sinto muito a tua falta avozinha. Embora te sinta em tanto do que diga e faço, embora seja eternamente grata por todas as coisas boas que vivemos, custa muito saber que agora sigo sem a tua presença física. Adoro-te. Um abraço daqueles, nossos, bem no âmago da tua alma. 

A madrinha é dos dois!

- Quando é que vamos a casa da madrinha? - pergunta a Guida. - Não é tua, é minha!- responde o mais velho  - oh pá, é dos dois! - diz ela. - Pois é! Mas é minha madrinha há mais tempo! - pica o mano Ela fica calada e eu penso orgulhosa que o irmão a deixou a refletir. Mas só estava a pensar na resposta certa: - Exato! Mas eu sou mais nova! Vou viver mais tempo que tu!  🤣 estes dois.

prazos de validade

As deslocações de carro com os miúdos nunca são monótonas… entre guerras pela escolha da banda sonora, discussões sobre quem fez o quê ou tagarelices disparatadas, há de tudo. Hoje, ao levá-los à escola, o H decide partilhar algo que anda a estudar na escola. - Mãe, não é verdade que todas as coisas têm um prazo de validade? Por isso é que os senhores das lojas põem aqueles códigos. - Mais ou menos. Quase todos os alimentos têm prazo de validade mas há uns que podem durar imenso. Olha o mel por exemplo, se estiver bem fechado, nunca se estraga. O mel não tem prazo de validade. - o amor também não!! - alvitra a mais nova. Ora, ainda estou eu a processar a beleza da analogia feita pela periquita de 6 anos, quando o de 7, pragmático como só os gajos sabem ser,replica: - Tem! Tem! Porque as pessoas as vezes já não gostam umas das outras e não querem mais namorar e por isso quer dizer que acabou-se o prazo de validade do amor!  Abro e fecho a boca tipo peixe, à procura de algo para dizer…ac

Quinta feira de espiga

  Há uma semana lembrei-me que se aproximava o dia da espiga. Não sou crente, não sou supersticiosa. Se tenho uma religião é o amor aos meus. E foi pela minha avó que me lembrei do dia. Pensei com mágoa, com uma raiva não direcionada, mas mal contida, que este ano não ia comprar ramo nenhum! Que se lixassem esses rituais pagãos que não têm qualquer sentido ou razão lógica. Espigas em número ímpar para representar o pão e a fertilidade. Papoilas rubras a simbolizar o amor. O malmequer “prata e ouro” para as riquezas terrenas. A oliveira, desejo de paz. O alecrim, para a força.  A videira, a alegria. (E haverão tantas variantes quantas as regiões de Portugal, mas esta é a versão que sigo) No dia de hoje, a minha avó ligar-me-ia. – Hoje é dia de espiga. Eu até gostava de ter um raminho…, mas se calhar já não se veem … E eu diria, como sempre: - Se eu encontrar levo-te um .  E levava. Todos os anos. Às vezes apanhado por mim daqui e dali até ter o ramo feito, outras vezes correndo

Desconfinamento com algum descontentamento

 Quinta feira, depois da comunicação ao país por parte do nosso primeiro ministro, ouvida obviamente entre vários: - estejam calados um bocadinho que quero ouvir,   Henrique não batas à tua irmã!,   Margarida baixa o som do tablet! Querem parar?!  Mas eles não querem, divertidíssimos a fazer a sua coreografia “ António... - polegares apontados para o peito - Costa !- polegares a apontar as costas e gargalhadas de quem acabou de ouvir o Jerry Seinfeld “ Lá conseguimos destrinçar o que nos interessava, com a mesma ansiedade de quem vê a tiragem dos números do Euromilhões. Confesso que tinha alguma esperança que abrissem primeiro algum comércio e a partir de 5/04 começassem então a abrir as escolas. Assusta-me mais este abre fecha, presencial-on-line, que a existência de uma rotina diária...  Foi um reajuste ao ensino on-line, e agora vamos reajustar ao regresso ao presencial. Espero, sinceramente, que até junho.  A instabilidade e eu temos uma relação digamos que... instável. Adolescente

“Caixa d’óculos”!? - parece que é Trendy agora...

Esta semana levei a Maggie ao oftalmologista. Andava há umas semanas a dizer que “não estava a ver bem”, que “via luzinhas verdes quando olhava o chão”... E como diz o provérbio, mais vale prevenir que remediar.  Vestiu-se como se fosse para uma gala ( como sempre que vai a algum lado)...  tudo ao detalhe, da fita lilás a dar com o unicórnio da sweat azul escura, aos Shorts com margaridas amarelas. Nem me atrevi a alvitrar sobre o porquê das  leggings amarelas por baixo dos calções de ganga (perdão: dos shorts)... a probabilidade de ouvir comentários sobre eu estar horrorosa por usar ténis brancos com calças de ganga e camisa preta.. ou levar uma mala castanha que não “rima com nada”  era mais que certa (sim, ela faz se consciência e é tão dura nos comentários que já deixei de usar certas coisas por causa da sua opinião). A minha fashion adviser particular. Lá fomos, e pelo caminho ainda sorri com o comentário: uau! Tinha mesmo saudades de andar de carro! 😂 - o prazer de redescobrir o

Ensino à distância - A importância de pedir licença.

11h00. à exceção das casas de banho, há em cada divisão da casa alguém à frente um portátil ligado... Uns trabalham, outros em aulas.    A dada altura ouço os passinhos da  Margarida. "Saiu da sua aula", veio ter comigo e pediu se eu podia ir ajudá-la.  Pedi que esperasse um bocadinho, terminei o que estava a escrever,  levanto-me e vamos as duas para a cozinha, onde ela está a ter aula. - Que precisas?  - Não estou a conseguir ligar o som!-  Ligo o som, ela senta-se, põe o dedo no ar e quando  a educadora lhe dá a palavra  ouço-a dizer:  - Laura! - Posso ir lavar as mãos? E pronto... era só isto. Voltei para o meu cantinho enquanto tento entender...  :P

O confinamento - parte 2

Confinar ou não, eis a questão. Olhando as “regras” deste confinamento 2.0, conclui-se que,  Para quem desde o início de 2020 faz os possíveis para ficar confinado e limitar os contactos para evitar propagação do vírus, pouco muda. Para quem até agora andou por aí a meter-se em risco a si e aos outros, pouco vai mudar. As pessoas têm de encaixar que pararmos ou desacelerarmos a propagação deste vírus não está nas regras do governo, nas coimas ou restrições, mas na consciência, na ética e  responsabilidade pessoal de cada um. Do meu lado, continuarei a fazer o mesmo que faço desde o início de 2020, enquanto aguardo, com fé, que a vacinação chegue a mim e aos meus e possa finalmente sentir que estamos mais próximos de ultrapassar esta pandemia.

Entre costuras e pensamentos

Foi a minha avó quem me ensinou a coser... Não que se tenha descoberto uma costureira em mim... mas aprendi com ela as bases. Alinhavar, chulear, cerzir. Ensinou-me a fazer o ponto invisível, o ponto cruzado, o caseado... Dava-me pedaços de pano e restos de linha e eu ficava ao lado dela a praticar, com ar solene de quem está numa tarefa importante. Olhava as suas mãos pequeninas, de dedos ágeis, a remendar a roupa de trabalho do avô, a coser botões nas camisas, a casear pontas de meias...  Ralhava comigo quando eu atalhava caminho e punha uma linha enorme na agulha: Isso è trabalho à Maria Badalhoca! Faz as coisas com preceito! A linha grande vai enrolar e a costura não fica nada de jeito! Aprendi com ela a colocar botões... “ Isso são pontarelos! Se dobras a manga vê-se esse ninho de linha!”  E eu, queria agradar! Queria aprender! E aprendi. Gostava tanto desses momentos nossos! Sempre que tenho que  coser botões nos bibes dos pequenos - e è algo que acontece semanalmente- corto a li