Fomos almoçar fora. O almoço estava bom. O que me ecoa na cabeça não são as conversas que tivémos, não é o sabor bom do peixe grelhado, mas a postura do funcionário que nos atendeu...
Adoro o Algarve. Não gosto tanto dos Algarvios.
Deixem lá elaborar, antes que me excomunguem.
Sou fã do Algarve. Fã das férias de infância, sediadas em Portimão mas a passear por todo o Barlavento e Sotavento. Gosto das praias, do canto incessante das cigarras, das figueiras na berma das estradas. Há um cheiro muito característico nesta zona e que sentimos assim que entramos em terras Algarvias. Uma mistura do doce das vegetações secas, com o pungente das flores e frutos amadurecidos nas arvores. Isto temperado com a maresia cria uma fragrância que dificilmente se conseguiría engarrafar.
Confesso que a praia é o que menos me atrai. Não as do Algarve em específico. Quem me conheçe sabe que eu, a areia, o vento e a água fria temos uma relação complicada. Há zonas muito especiais onde a praia me faz sentido, se calhar pelas alegrias já aí vividas. Adoro a praia do Vau, com o seu areal curto e lugares de praia guardados às 7 da manhã pelos valdences sem muita paciencia para os sazonais que lhes invadem a areia.
Sou fã absoluta do Carvoeiro. Só a descida para o centro da vila já me deixa o coração exultante. Memórias boas, de passeios, de refeições, daquela praia protegida onde me esqueço que detesto água fria e passo imenso tempo de molho. Adoro a vila de Alvor, com as mil lojas de traquitanas que enfeitiçam os miúdos a cada passo. Atrevo-me a dizer que poderia viver a reforma nesta vila... De chinelo o tempo todo, a pele curtida pelo sol e, qui çá, juntando-me aos vizinhos do Vau na marcação do meu lugar na praia...
E depois, temos Cabanas de Tavira. Cabanas é um amor antigo, despertado há muitos anos quando o meu tio, um "puto jovem", na altura, nos levou um dia a passear por ali, para nos mostrar a vila castiça, onde para irmos à praia tínhamos que apanhar o barco. Mais tarde, nos primeiros anos de casados, era aí que passavamos férias. E assim foi até nascer a Guida... Correndo o risco de ser trucidada, ouso dizer que é nessa zona que ainda conseguímos um contato genuíno com as pessoas... e por pessoas refiro-me aos habitantes não sazonais. Em cabanas, a senhora da papelaria não revira os olhos quando lhe pedes o expresso, falando Português. Os restaurantes são geridos por gente da terra, que mostra prazer em receber quem vem e, quase me atreveria a dizer, até tem gosto em ver Portugueses na mesa. Infelizmente não tenho essa mesma perspetiva em locais mais "turistados". E a nossa experiência em Alvor, infelizmente, veio trazer mais momento do tipo: "eu-é-que-sou-daqui-voçês-estão-a-mais-não-tenho-que-ser-educado-ou-respeitoso-mesmo-que-voçês-o-sejam-so-tenho-que-dar-o-que-pedem-e-os-meus-modos-são-os-meus-modos-tenho-anos-de-sobra-disto-não-me-chateiem."
Sim. Eu sei. Não serão todos assim. Mas sim, vocês sabem... a probabilidade de apanhar um destes, não é pequena cá em baixo- e isso é estúpído. Mancham a casa que representam, mancham o serviço que prestam, e não honram o que devia ser motivo de orgulho: a sua terra.
Mas conto essa história amanhã.... Hoje ainda estou irritada com a situação do almoço.
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