Não tenho particular interesse em Salazar e acabo por ter inculcada a visão generalizada e propagandeada, do bicho papão que manteve Portugal num regime ditatorial durante quarenta anos. Em prol da verdade, tenho presente essa visão, com algum atenuar pela ideologia do meu avô, que apesar de ter nascido pobre e vivido em condições adversas durante toda a infância, tem uma visão ideológica em que defende o Homem, por ter evitado que Portugal fosse para a guerra, e por, no meio da repressão, ter tentado “impor os bons costumes”. Ora, eu nasci no fim dos anos setenta, em democracia. Não consigo conceber a ideia da imposição que ele defende, mas pelo amor desmesurado que lhe tenho, acredito que haja no discurso do meu avô qualquer base credível. Assim, nestas férias decidi levar comigo um dos seus livros. Chamou-me a atenção o nome e confesso que na minha ignorância achei que fosse ler qualquer coisa sumarenta sobre um caso amoroso do tipo. Ora bolas. Nada disso. O livro é sobre uma rapariga que viveu sobre sua tutoria. Bem, vamos ser sinceros, gostei bastante do livro. Gostaria de ter visto algumas partes mais aprofundadas embora, mas se assim fosse fugíamos ao pretendido. Este livro é uma espécie de biografia dupla: a de Maria da Conceição de Melo Rita e uma pequena biografia de António de Oliveira Salazar. A narrativa está muito interessante e apesar de haver duas histórias de vida, estão encadeadas como se fossem uma só.
Achei interessante o livro porque nos dá uma visão
diferente de António de Oliveira Salazar, uma
abordagem intimista e, quase familiar. Estabelece uma dicotomia entre o que ouvimos
dizer e a experiência do que alguém viveu e presenciou durante quase 40 anos. É
interessante esta noção de que o ditador, o repressor, como é retratado pelos
anais de história, possa também ter uma imagem de pai de família, de tutor.
Se gostam de história, é um livro que
recomendo. Independentemente de ideais políticos, abre-nos a mente. Vale a pena!
Opinião sobre: Os meus 35 anos com Salazar, de Maria da Conceição Rita, Joaquim Vieira
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