Não tem sido um ano fácil, em termos generalistas.
Esta trampa desta pandemia que nos trocou a normalidade e nos obriga a viver num baile de máscaras diário. Gestos que outrora seria considerados uma obsessão compulsiva, são agora incentivados.
Passa gel na mãos, coloca a mãscara, passa gel nas mãos. Passa gel nas mãos, entra na loja, vê, toca (o mínimo possível), compra, guarda as coisas no saco, sai da loja, passa o gel nas mãos. Chega a casa, tira sapatos, desinfeta sapatos, tira máscara, desinfeta e guarda a máscara, tira casaco, desinfeta e pendura casaco, passa gel, cumprimenta quem está. Brinco, mas a brincar toco na ferida, que se não morremos da doença, morremos na cura.
Estes gestos, aparentemente inofensivos, hão-de cobrar o seu preço. Aos poucos, todos nós, uns mais que outros, estamos a ganhar tiques, fobias, manias.
A prometida vacina, que se vislumbra "para breve", poderá trazer em dois ou três anos um mudar deste paradigma que vivemos e aliviar o peso e impacto que a doença tem. Não sei se dois ou três anos chegarão para mitigar os efeitos que a pandemia deixa no psicológico.
Penso sobretudo nos miúdos, em todos, mas especial, nos meus. Não quer que este "novo normal" se torne o seu NORMAL.
Não quero que vivam a sua vida escondidoa atrás de uma máscara e a evitar o tão importante contato físico.
Não quero que se sintam culpados e me questionem se fizeram mal, cada vez que correm a abraçar os bisavós.
Quero, como qualquer mãe, que tenham o melhor.. E desejo, tanto, mas tanto, tornar a passear com eles ao ar livre, de nariz esticado ao sol e ao vento. Poder ver o seus dentinhos lindos quando sorriem, poder ter toda a família junta sem medos e peso na consciência.
Não tem sido um ano fácil, em termos generalistas. Muito mudou, no espaço de 9 meses. De março para cá vivemos numa distopia que eu não imaginava nem nas minhas crónicas mais disparatadas.
Mas apesar de tudo, arrisco a dizer que nós, enquanto família, emos tido um ano abençoado, e estou grata por isso.
Ter a oportunidade de estar sete meses em família, 24 sobre 24 horas, mesmo com tudo o que implica tele-escola e tele-trabalho, foi maravilhoso. Nunca, se não fosse esta pandemia, teríamos essa oportunidade. De estar tanto tempo com os nossos.
Ter a benção de, até à data, este flagelo não ter soprado sobre qualquer um de nós, é um alívio que agradeço diariamente.
Por isso, sim, o ano do papel higiénico e alcool-gel tem sido tramado. Mas, no geral, e a poucos dias do termino de 2020... Agradeço o ano que vivemos, e a oportunidade de o termos vivido juntos, confinados em família e amor.
Que 2021 traga alguma luz ao fim desta pandemia!
Que 2021 seja amor!
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