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Se não for da doença, vai ser da cura.

De hoje a 4 dias completam-se 3 meses desde que estamos em casa.
Há já uma rotina criada, ajustada, readaptada às novas realidades de cada um de nós. Já sei os dias que tenho que dar aulas no quarto porque na sala há demasiadas atividades em simultâneo. Já conheço as vozes de grande parte dos interlucutores diários do meu marido... Já (quase) todos se habituaram a colocar no quadro do frigorifico as reuniões, trabalhos e aulas que vão ter - só com horários a malta se entende.
Maravilhoso no meio do caos, as refeições, ainda que às vezes a correr, todos juntos à mesa. Nunca tinhamos conseguido almoçar os 5 juntos mais de 20 dias seguidos. É ridiculo, não é? Se quantificarmos as coisas, foi preciso uma pandemia deste nível, para nos confinar a todos  verdadeiramente em família. Juntos. Não em férias, mas num bigbrother sem cameras, 24 sobre 24 horas todos juntos. 
Não sei se temos "vivido" ou sobrevivido. Houve dias de perfeita loucura, em que nada corre bem, tudo parece conspirar contra nós e por milésimos de segundo perdemos o norte.

Mas a verdade é que tudo pesado e quantificado, tem sido um privilégio enorme esta oportunidade. Poder dar-me ao luxo de desligar a T.V, desligar todo o mundo lá fora, e estar aqui, em casa, segura, com a minha tribo. Ter todos seguros e ao alcançe da vista, sem nenhum de nós ter sofrido danos ou perdas ao nível de emprego, tem sido um privilégio muito grande. 
Sinto pesar por todos os pais e mães que, por terem continuado a trabalhar não puderam "viver" a família neste conceito intenso. 

Foi uma prova de fogo, mas sobrevivemos. Como casal, como família, como um todo composto por 5. Sem quezílias maiores que a dos miúdos entre si e contra nós, pais. 

Preocupa-me agora a outra luta. Aquela que não partilho tanto convosco e tenho que ser eu a vencer. 
A luta de conseguir ultrapassar o terror que tenho de tudo o que não consigo controlar. 
Estou preparada para voltar às aulas em Setembro. Em sala, com máscaras, com gel, com distâncias, com um controlo aparente. 
Mas aterroriza-me a ideia de sair socialmente. Praia? Dispenso. Restaurantes? Passo. Passeios? Se for só com os meus e sem mais ninguém ao redor. 
... Começa a falar-se em desconfinamento gradual... E gradualmente me sinto mais confinada e presa aos meus receios.
Nunca as noites me pareceram tão longas e cheias de ideias más.
E continuo a gritar em silêncio... Deixem-me ficar na minha gaiola!!!

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