Quando era miúda, o Halloween era algo que se via nos filmes americanos e nos causava a nós, miúdos lusitanos, uma dor de cotovelo enorme.
Ver aquelas crianças mascaradas, em cortejo pela rua, com os pais a acompanhar, tocarem à campainha de casas decoradas a rigor e receber doces, era um foco de desejo.
Ver aquelas crianças mascaradas, em cortejo pela rua, com os pais a acompanhar, tocarem à campainha de casas decoradas a rigor e receber doces, era um foco de desejo.
Há os acérrimos defensores de que esta tradição não é nossa...que é importada, que é pagã, que a nossa tradição é o pão por Deus.
Mas será que sim? O que faz uma tradição? Não podemos ter novas? Não haverão algumas que se perdem no tempo e diluem no sentido?
Não deixa de ser a minha opinião, e vale o que vale, mas acho que nas últimas gerações, de um
modo geral, foi o que aconteceu nos centros urbanos. A tradição, esmoreceu,
Até ao final de um duro período de ditadura, de maiores dificuldades, de carências, etc, era comum que se cumprisse a tradição. Apadrinhada pelo Estado, incentivada pela necessidade das famílias, as crianças saíam à rua a pedir o pão por Deus e refastelavam-se com os bolinhos doces que para muiros eram os únicos que tinham, que o dinheiro era contado e fazia falta para mais coisas.
Na década de 60, com a mudança de regime e, aos poucos, também das condições de vida, para muitos pais, mandar os filhos pedir os bolos e bolinhos deixa de fazer sentido.
Primeiro, porque passam a ter meios de lhes dar esses mimos durante o ano, e depois, porque a ideia dos filhos irem pedir lhes lembrava um tempo em que eles mesmos iam ao pão por Deus e todas as privações que passaram.
Essa geração de crianças de 60/70 cresceu a ouvir dizer que: pedir era para quem não tinha nada. E crescendo, passou a mesma mensagem.
No meu caso aplica-se. Os meus pais, nascidos em 60’s nunca me deixaram ir pedir o pão por Deus... contavam-me a origem da tradição - desde as origens pagãs ao ponto de ligação com o terramoto.- e perguntavam se eu precisava ir pedir para ter alguma coisa. Que deixasse isso para quem precisava.
Quando surge o Halloween por cá, deixa de haver um estigma e passa a ser “giro” ir brincar a pedir doces.
È verdade que as tradições se devem manter, mas è importante ver o contexto cultural por trás..
Eu não tenho a tradição pão por Deus. Mas tenho e regozijo-me com o Halloween. Porque foi uma cultura que chegou e pude abraçar sem estigmas, sem vergonhas, sem justificações. E sim, acho piada à parte pagã da coisa, e acho giro o cosplay associado. E sim, no meu núcleo de amigos o Halloween é um segundo natal... com muito simbolismo. As tradições têm que nascer em algum ponto. Esta é minha... adotei-a há mais de 15 anos... se será uma tradição perpétuada pelos meus filhos? É com eles, será sempre escolha deles.
O Pão por Deus não me foi dado como escolha, Ficou desde sempre associado à ideia de pobreza e de ir bater de porta em porta.
Ontem, os meus quiseram ir fazer doce ou travessura.
Como já saíram tarde de casa, desceram as escadas do prédio mas não tiveram sorte, ninguém lhes abriu a porta.
Ainda pensei “amanhã vou com eles ao pão por Deus.” Sou sincera. Não consegui, tive vergonha.
Na minha cabeça há anos de tradição de “vais bater à porta e pedir o pão que faz falta a outra pessoa”.
A nossa bagagem pesa muito no modo como vivemos.
É importante termos a capacidade de aceitar e respeitar as tradições de cada um.
Sem críticas e juízos de valor.
Respeito, e até invejo, quem descontraidamente bate à minha porta no da 1 a pedir o Pão por Deus. E abro a porta com a mesma franqueza com que recebi na noite anterior a pedir doce ou travessura.
Mais que criticar a tradição A ou B, seria importante que cada um soubesse refletir em consciência e tentasse ver além da sua "verdade". Há sempre várias verdades.
Esta é a minha. Não será a certa ou a errada. Mas é a minha visão particular sobre o que me rodeia.
Até ao final de um duro período de ditadura, de maiores dificuldades, de carências, etc, era comum que se cumprisse a tradição. Apadrinhada pelo Estado, incentivada pela necessidade das famílias, as crianças saíam à rua a pedir o pão por Deus e refastelavam-se com os bolinhos doces que para muiros eram os únicos que tinham, que o dinheiro era contado e fazia falta para mais coisas.
Na década de 60, com a mudança de regime e, aos poucos, também das condições de vida, para muitos pais, mandar os filhos pedir os bolos e bolinhos deixa de fazer sentido.
Primeiro, porque passam a ter meios de lhes dar esses mimos durante o ano, e depois, porque a ideia dos filhos irem pedir lhes lembrava um tempo em que eles mesmos iam ao pão por Deus e todas as privações que passaram.
Essa geração de crianças de 60/70 cresceu a ouvir dizer que: pedir era para quem não tinha nada. E crescendo, passou a mesma mensagem.
No meu caso aplica-se. Os meus pais, nascidos em 60’s nunca me deixaram ir pedir o pão por Deus... contavam-me a origem da tradição - desde as origens pagãs ao ponto de ligação com o terramoto.- e perguntavam se eu precisava ir pedir para ter alguma coisa. Que deixasse isso para quem precisava.
Quando surge o Halloween por cá, deixa de haver um estigma e passa a ser “giro” ir brincar a pedir doces.
È verdade que as tradições se devem manter, mas è importante ver o contexto cultural por trás..
Eu não tenho a tradição pão por Deus. Mas tenho e regozijo-me com o Halloween. Porque foi uma cultura que chegou e pude abraçar sem estigmas, sem vergonhas, sem justificações. E sim, acho piada à parte pagã da coisa, e acho giro o cosplay associado. E sim, no meu núcleo de amigos o Halloween é um segundo natal... com muito simbolismo. As tradições têm que nascer em algum ponto. Esta é minha... adotei-a há mais de 15 anos... se será uma tradição perpétuada pelos meus filhos? É com eles, será sempre escolha deles.
O Pão por Deus não me foi dado como escolha, Ficou desde sempre associado à ideia de pobreza e de ir bater de porta em porta.
Ontem, os meus quiseram ir fazer doce ou travessura.
Como já saíram tarde de casa, desceram as escadas do prédio mas não tiveram sorte, ninguém lhes abriu a porta.
Ainda pensei “amanhã vou com eles ao pão por Deus.” Sou sincera. Não consegui, tive vergonha.
Na minha cabeça há anos de tradição de “vais bater à porta e pedir o pão que faz falta a outra pessoa”.
A nossa bagagem pesa muito no modo como vivemos.
É importante termos a capacidade de aceitar e respeitar as tradições de cada um.
Sem críticas e juízos de valor.
Respeito, e até invejo, quem descontraidamente bate à minha porta no da 1 a pedir o Pão por Deus. E abro a porta com a mesma franqueza com que recebi na noite anterior a pedir doce ou travessura.
Mais que criticar a tradição A ou B, seria importante que cada um soubesse refletir em consciência e tentasse ver além da sua "verdade". Há sempre várias verdades.
Esta é a minha. Não será a certa ou a errada. Mas é a minha visão particular sobre o que me rodeia.
Comentários
Da minha parte, independentemente das tradições, lusas ou celtas, não esqueço o sentido da comemoração, essa sim, única a ambas e a tantas outras, de honrar quem já partiu!