Estou
em casa.
O
filme continua a ser escrito, em modo reality show improvisado, com cada um de
nós como personagem.
Não
sei bem qual o meu papel.
Estou
em casa. Com a família.
Primeiro
fecharam as escolas.
Não todas, algumas, onde tinham surgido casos. Depois
vieram os debates na tv, a forte opinião pública.
Lá fora, pela Europa, a maior
parte das escolas estão fechadas. As pessoas estão em casa… aqui demora. Finalmente,
meio a medo, começam a encerrar-se escolas e colégios, por decisão própria das
direções, por precaução. Mesmo sem casos confirmados. Já se sabe que o contágio
é intenso e dramático. Já se sabe que as crianças sempre apanham o vírus. Que
não são muito afetadas, mas afetam fortemente todos em seu redor. Os idosos são
os mais suscetíveis.
A
pressão social obriga a uma posição do Estado. As escolas encerram todas. Por
uma quinzena. Para já. As aulas presenciais estão suspensas. Até à interrupção
da Páscoa.
Estou
em casa, desde sexta feira, dia 13.
Estamos, em família, aparentemente resguardados desse perigo invisível.
Quarentena voluntária é o nome.
Nós, os adultos, em teletrabalho. Eles, os
filhos, numa aparente normalidade com regime de tele-escola…
Da
nossa gaiola voluntária, acompanhamos as notícias. - Tentamos, os adultos, dosear
a preocupação com serenidade e responsabilidade.
Os
minions não se apercebem da gravidade. Sabem que não podem ir à rua, o que os aborrece, mas entre alguns exercicios escolares, as brincadeiras, amuos, tablets e jogos de bola na garagem, passa-se o dia. A M. perguntou até quando íamos estar nas férias do Corona Vírus.
O adolescente, vive descontraído o carpe diem e cruza os dedos para que o terceiro período escolar
não aconteça. Não sair de casa não é um problema mas um bónus nesta faixa etária. Haja internet e rede móvel.
Eu, tento ser a rotina que
precisam.
Tento não falar do pânico que sinto quando penso nos meus avós, em
sua casa. Na vontade que tenho de os ir visitar diariamente e o terror de poder
levar para sua casa algo nefasto. Medo de não os estar a acompanhar e medo de
não os poder acompanhar amanhã.
Penso nos meus pais, nos meus irmãos, no que gostaría agora de ter uma casa grande onde pudesse criar um bunker familiar.
Não
quero falar do que penso, do que vejo. Do quão frágil é o fio que separa as
nossas lástimas e as nossas virtudes.
Nós, os adultos da casa, não falamos muito do que cada um sente no seu universo interior. Os medos dele serão em tudo semelhantes aos meus e somos mais fortes assim, um apoiado no outro e juntos em prol do nosso núcleo familiar.
Todos,
a dada altura, vimos este Covid-19 como o problema do Outro, do que está longe.
Nenhum de nós é isento para dar lições de moral. Achamos que chegaria, eventualmente, muitos não o previram assim.
Não
consigo ainda vislumbrar o futuro pós Coronavírus.
Tenho fé, tenho a esperança, espero não iludida,
de que o pregão “vai ficar tudo bem” seja realmente o mote inspirador desta condição de aflição coletiva, e que nos
faça a todos melhorar, que saibamos unir esforços, que saibamos passar
mensagens de cidadania e ver o bem comum como algo maior que o interesse de
cada um.
Que
quando isto passar, porque vai passar, todos nós possamos sair mais fortes
deste horror.
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